Venha comigo para Paris, França, 1954. Elie Wiesel é
um correspondente de um jornal judeu. Uma década antes, ele era um prisioneiro
em um campo de concentração judeu. Uma década mais tarde, ele seria conhecido
como o autor de Night, o Prêmio Pulitzer – vencedor relato do Holocausto.
Finalmente, ele será premiado com a Medalha de Sucesso Congressional e o Prêmio
Nobel da Paz.
Mas esta noite, Elie Wiesel é um desconhecido de 26 anos correspondente de um
jornal. Ele está prestes a entrevistar o autor francês François Mauriac, que é
um cristão devoto. Mauriac é o mais recente poeta laureado vencedor do Prêmio
Nobel de literatura e um especialista na vida política francesa.
Wiesel aparece no apartamento de Mauriac, nervoso e fumando sem parar – suas
emoções ainda estavam em frangalhos pelo horror alemão, e seu conforto como
escritor ainda estava cru. O Mauriac mais velho tenta deixá-lo à vontade. Ele
convida Wiesel para entrar, e os dois sentam-se na sala pequena. Antes que
Wiesel consiga fazer uma pergunta, entretanto, Mauriac, um firme católico
romano, começa a falar sobre seu assunto preferido: Jesus. Cresce a inquietação
de Wiesel. O nome de Jesus é um dedão pressionado em suas feridas
infeccionadas.
Wiesel tenta desviar a conversa mas não consegue. É como se tudo na criação
levasse de volta a Jesus. Jerusalém? Jerusalém é o lugar onde Jesus ministrou.
O Velho Testamento? Por causa de Jesus, o Velho é agora enriquecido pelo Novo.
Mauriac converte todos os assuntos para o Messias. A raiva em Wiesel começa a esquentar.
O antissemitismo cristão com o qual ele cresceu, as camadas de dor de Sighet,
Auschwitz e Buchenwald – tudo isso ferve. Ele guarda sua caneta, fecha seu
notebook e levanta-se zangadamente.
“Senhor”, ele disse para Mauriac que estava sentado e imóvel, “você fala de
Cristo. Os cristãos adoram falar dele. A paixão de Cristo, a dor de Cristo, a
morte de Cristo. Em sua religião, isso é tudo sobre o que vocês falam. Bem, eu
quero que você saiba que há dez anos atrás, não muito longe daqui, eu conheci crianças
judias que sofreram mil vezes mais, seis milhões de vezes mais do que Cristo na
cruz. E nós não falamos sobre elas. Você consegue entender, senhor? Nós não falamos sobre elas”. (David Aikman, Great
Souls: Six Who Changed the Century, Nashville: Word Publishing, 1998, p.
341-342).
Mauriac está pasmo. Wiesel se vira e marcha para fora
da porta. Mauriac senta em choque, o seu cobertor de lã ainda ao redor dele. O
jovem repórter está apertando o botão do elevador quando Mauriac aparece no
hall. Ele suavemente estica a mão para o braço de Wiesel. “Volte”, ele suplica.
Wiesel concorda, e os dois sentam-se no sofá. Nessa hora, Mauriac começa a
chorar. Ele olha para Wiesel mas não diz nada. Somente lágrimas.
Wiesel começa a desculpar-se. Mauriac não terá nada disso. Em vez disso, ele
incita seu jovem amigo a falar. Ele quer ouvir sobre isso – os campos, os
trens, as mortes. Ele pergunta a Wiesel por que ele não colocou isto no papel.
Wiesel conta a ele que a dor é muito intensa. Ele fez um voto de silêncio. O
homem mais velho diz a ele para quebrá-lo e falar.
A noite mudou os dois. O drama tornou-se o solo de uma amizade perpétua. Eles
se escreviam até a morte de Mauriac em 1970. “Eu devo minha carreira a François
Mauriac”, Wiesel disse... e foi a Mauriac que Wiesel enviou o primeiro
manuscrito de Noite.
E se Mauriac tivesse deixado a porta fechada? Alguém o culparia? Cortado pelas
palavras afiadas de Wiesel, ele poderia ter ficado impaciente com o jovem bravo
e ter ficado contente por ter se livrado dele. Mas ele não poderia e não ficou.
Ele reagiu decisivamente, rapidamente e amavelmente. Ele foi “devagar em
ferver”. E, por causa disso, um coração começou a curar.
Posso incitá-lo a fazer o mesmo?
“O Senhor é paciente com vocês” (2 Pedro 3:9). E se Deus está sendo paciente
com você, você não pode passar alguma paciência a outros? Claro que pode.
Porque antes do amor vem outra coisa:
O amor é paciente.