Prometa-me que vai ler até o fim…
“No meio da sua praça, em ambas as margens do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês. E as folhas da árvores são para a cura das nações.” Apocalipse 22:2
Para quem imagina que o tema tratado em Apocalipse seja o fim do mundo e a vida na eternidade, como explicar o verso acima?
A Nova Jerusalém descrita no capítulo anterior é uma figura da igreja de Cristo, uma vez que é apresentada como a esposa do Cordeiro. Ora, que outra esposa Ele teria senão Sua igreja? Trata-se, portanto, da sociedade dos santos, locomotiva da civilização do Reino de Deus.
Se a Nova Jerusalém fosse algo a ser esperado no futuro, para além da História, que sentido faria seus muros? De quê a cidade precisaria se proteger, já que os inimigos de Deus terão sido aniquilados?
O vidente João diz que não havia templos na cidade. Portanto, não se trata de uma sociedade religiosa. O Cristianismo original não pretendia ser uma nova religião, mas a pedra fundamental de uma nova civilização. Embora não houvesse santuários, havia uma praça. O que isso nos diz? Praça fala de vida social, de interação, lugar de encontro, de diálogo, de luz, fora das quatro paredes. E no meio desta praça, em vez do coreto encontramos uma árvore.
Quem é, afinal, o centro de todas as nossas atividades? Quem ocupa o lugar central de nossas existências? De quem nos alimentamos? Em quem encontamos o fruto da vida eterna? Não há outra resposta possível senão uma: CRISTO! Ele é a Árvore da Vida! Foi Ele quem disse: “Quem de mim se alimenta, por mim viverá!”
Seus frutos não são esporádicos, mas constantes. Toda estação é propícia para dar seus frutos.
O que mais chama a minha atenção neste verso em particular é a última sentença.
Naquela época era comum o uso de folhas como remédio. É daí que vem o hábito de tomar chá, fartamente cultivado nas cidades grandes. Ninguém duvida do poder medicinal que tem algumas plantas. Lembro-me do quanto chá de quebra-pedra tive que tomar quando sofri de cálculos renais. E ainda hoje, quando não consigo dormir, recorro ao chá de camomila ou de erva-doce.
Como se processa o chá? Folhas são deixadas por alguns minutos em água fervendo. Aos poucos, a água vai absorvendo as propriedades da planta, mudando sua coloração. O nome deste processo é infusão.
Estudos sugerem que o chá tem muitas propriedades benéficas importantes, por exemplo: é anticancerígeno, aumenta o metabolismo, ajuda o sistema imunológico, reduz o mau-hálito, diminui o stress, tem efeitos até sobre o HIV.
A folhagem da árvore da vida aponta para a inserção da igreja na vida social do mundo. Em vez de assimilarmos, somos assimilados.
Isso explica porque Deus não removeu Seu povo deste mundo. Nossa vocação promordial é a de ser sal da terra, provendo não apenas sabor, mas também preservação.
Para tal, temos que estar inseridos na xícara (mundo), liberando nossas propriedades terapêuticas.
Em vez disso, tornamo-nos numa sociedade extremamente religiosa e alienada do mundo. Cristo almeja curar as nações, e o único remédio de que dispõe já foi ministrado: é a presença da igreja no mundo.
A igreja precisa inserir-se na cultura, nas ciências, na política, no mundo empresarial, na educação, etc. Não me refiro à igreja como instituição, mas como organismo vivo, representado por cada um dos seus membros.
Marx tinha razão. A religião é o ópio do povo. Trazendo pra nossa realidade latino-americana, diríamos que a religião é a cocaína do povo. De onde vem a cocaína? Ou mesmo a maconha? De folhas. Tais plantas foram igualmente criadas por Deus, e têm, comprovadamente, propriedades medicinais. Porém, Deus não as criou para serem fumadas, ou transformadas em pó para ser inaladas.
Da mesma forma, a impressão que se tem é que a igreja entrou no ramo de tráfico da droga religiosa. Estamos oferencendo ao mundo o produto da árvore da vida processado para ser fumado e cheirado.
Que efeito a droga produz no usuário? Entorpecimento. Quem usa droga fica desligado da realidade. Cria até uma espécie de realidade paralela, onde a fantasia se confunde com o mundo real. Até que ponto a mensagem que tem sido pregada em nossos púlpitos não tem efeito alucinógeno nos crentes?
Que pena! O que deveria ser remédio, virou droga. E que droga!!!
Ao invés de nos posicionarmos no centro da praça, preferimos a comodidade dos guetos. Sentimo-nos mais seguros na pinumbra, com nossa subcultura, nosso evangeliquês imbecilizado. Enquanto isso, a criação segue aguardando impaciente a manifestação dos filhos de Deus.
genizah